O mundo vai poder observar a maior lua cheia das últimas duas décadas no próximo sábado. Como é véspera de equinócio, quem paga é a Páscoa, que se vê este ano empurrada para mais tarde no calendário.
No dia 19 de março, a lua vai parecer invulgarmente maior, porque vai ficar tão próxima da Terra como não acontecia há 18 anos, explicou à Lusa Rui Jorge Agostinho, diretor do Observatório Astronómico de Lisboa (OAL).
O fenómeno de aproximação da lua à Terra é designado perigeu (oposto ao apogeu, quando está mais afastada), explica-se por a órbita deste satélite não ser circular, mas elíptica, e não é invulgar, acontecendo todos os anos.
O que acontece de extraordinário este ano é explicado pelo astrónomo: "A forma da elipse, a excentricidade da elipse, varia periodicamente, às vezes é mais alongada, outras mais curta. Alguns dos perigeus que ocorrem sucessivamente são mais próximos do que outros".
"A coincidência é haver um perigeu desses muito próximos e que também coincide com a lua cheia, e isso dá uma lua maior do que o habitual", acrescentou.
Nelma Silva, do núcleo de divulgação do Centro de Astrofísica da Universidade do Porto, especificou que este perigeu vai fazer com que a lua esteja a cerca de 356 mil quilómetros da Terra, enquanto que em média está à volta dos 360 mil quilómetros de distância.
Isto equivale a dizer que a lua se aproximará da Terra cerca de quatro mil quilómetros, sendo 12% maior, à vista humana, especificou.
Mas os fenómenos astronómicos do próximo fim-de-semana não se ficam por aqui: no domingo há o equinócio da primavera, dia que marca a mudança da estação e em que o dia e a noite têm exatamente a mesma duração.
Mas esta coincidência temporal não tem qualquer consequência a não ser atrasar o domingo de Páscoa.
Como explicou Nelma Silva, a Páscoa é um feriado católico, mas a data é calculada em função da astronomia: celebra-se no primeiro domingo a seguir à primeira lua cheia após o equinócio.
Uma vez que este ano há uma lua cheia imediatamente antes do equinócio, há que esperar pela próxima lua cheia e pelo domingo que se segue.
Quanto à influência que a aproximação da lua pode ter sobre a Terra, designadamente desencadear catástrofes naturais, como se tem especulado ao longo dos anos, os cientistas afastam completamente essa hipótese.
Segundo David Luz, investigador do Centro de Astronomia e Astrofísica, do OAL, a lua exerce influência sobre as marés.
"Haverá uma amplitude das marés ligeiramente maior. Por exemplo, no porto de Lisboa o Instituto Hidrográfico prevê para a altura da praia-mar 4,27 metros e baixa-mar de 0,20 metros, enquanto na lua cheia precedente as alturas foram de 4,21 e 0,12 metros", afirmou.
Apenas isso e nada de sismos, já que o "comportamento da Terra depende do movimento das placas tectónicas, que por sua vez depende do movimento do magma no interior da Terra. São fenómenos muito lentos e independentes do movimento da lua em torno da Terra".
Existe, contudo, uma correlação documentada entre as atividades humanas (explosões em pedreiras, perfuração petrolífera, grandes obras) e a sismicidade, assegurou.
"Se admitirmos que as marés podem ter um efeito de desencadear um sismo no caso de existirem fortes tensões acumuladas, então também temos de admitir que as atividades humanas podem ter o mesmo efeito".